quarta-feira, 5 de julho de 2017

Família Gracie dá aulas à prova de bullying para crianças na Califórnia

GSHOW

Segundo Rener Gracie, aula não ensina a se preparar para a briga, "eles estão aqui para se preparar para a vida". Academia foi a primeira da Califórnia a ter o jiu-jitsu brasileiro


s seis bolas coloridas de plástico estão espalhadas pelo salão e, mais ou menos, trinta crianças estão sentadas no tatame, encostadas na parede. Quando a contagem começa, é preciso concentração. No “já” de Rener Gracie, todas as crianças correm para tentar fugir das bolas, que são lançadas pelos professores. Quem for atingido por uma delas está fora do jogo. O último a ficar é o vencedor. O que parece ser mais uma brincadeira infantil é, na verdade, uma aula de jiu-jitsu, a bullying proof, em português, aula à prova de bullying, dada na primeira Academia Gracie fundada na Califórnia.

- Nossa aula de ‘’bullying proof” para criança é a melhor que existe no mundo. A gente não só ensina os golpes para se defender, mas psicologia também de como falar, como tratar uma pessoa que faz bullying. É muito mais completo do que só o jiu-jitsu fisicamente. Os alunos estão aqui não para se preparar para a briga, mas para se preparar para a vida. Eles estão aqui como se fosse em uma colônia de férias, usam a aula como uma válvula de escape – explica Rener.

A complexidade de cada um dos movimentos é ensinada com paciência pelos monitores no centro do tatame. Em um silêncio sepulcral, cada uma das crianças observa e ouve atentamente às instruções. Em seguida, tentam reproduzi-lo com o colega de classe e repetem seguidamente durante cinco minutos. Na aula seguinte, tudo começa novamente.

- Na hora, o aluno nem consegue reter tudo o que a gente ensina, mas é a repetição que faz com que ele aprenda aquilo. Semana que vem, mês que vem ele está fazendo certo – conta Rener.

Apesar da repetição dos movimentos e da rigidez dos professores, os alunos conseguem absorver a mensagem e cada um dos movimentos.

- A brincadeira das bolas deixa a gente mais rápido, é muito divertido - diz a pequena Lilia Ushman, de sete anos, aluna de Rener.

- Eu acho que eu aprendi a me defender das pessoas que dizem coisas sobre mim que eu não gosto. Agora eu aprendi a forma certa de dizer para eles que eu não quero que eles me chamem assim e eles param. Agora eu sou mais forte porque eu sei me defender sozinha – afirma Alexis Fulcher, que se apressa, orgulhosa, para dizer que já completou 351 aulas de jiu-jitsu.

Além das crianças, as mulheres tem uma aula dedicada a elas. Nela, Rener é apenas assistente da esposa Eve. Ela é quem comanda a “woman empowered”, em português, mulher empoderada.

- É uma aula de defesa pessoal só para as mulheres É muito divertido, muito fácil, muito efetivo e é um negócio que está crescendo todo dia. Uma aluna traz uma amiga, que traz uma amiga… Nos últimos dois anos a popularidade cresceu muito e hoje em dia ensinamos esta aula em todas as academias no mundo todo.

Hoje, a família coleciona mais de 15 mil alunos espalhados em 120 academias ao redor do planeta. Quando começaram a construir o império, Roryon Gracie, pai de Rener, tinha apenas o jiu-jitsu brasileiro em mente e uma garagem vazia em mãos.

- O jiu-jitsu chegou nos EUA com meu pai, em 1978, conhecendo ninguém. Chegou aqui, abriu uma garagem em Hermosa Beach e começou a dar aula todo dia na garagem. Qualquer pessoa que ele conhecesse, ele convidada para ir pra casa dele. Depois de 11 anos na garagem, ele abriu a academia Gracie, em 1989. Quatro anos depois disso, ele criou o Ultimate Fight Championship, o UFC, e o negócio virou moda agora. Então, demorou quase 10 anos pra ele se estabelecer.

Na década de 70, os filmes de Chuck Noris e Bruce Willis serviam como referência para os americanos. Com movimentos muito bonitos, pontapés e chutes, todos achavam que o jiu-jitsu japonês, influência para os filmes, era o único existente.

- O jiu jitsu que eles conheciam aqui era o jiu-jitsu japonês, o “Gracie” era muito estranho para eles. Meu pai chegou aqui, fez muitos desafios na garagem dele, luta, briga, na garagem, o “Gracie’s Challagen”, contra outros tipos de artes marciais. Depois que ele fez muitas vezes na garagem, ele viu que alunos adoravam ver essas lutas: “o que ia acontecer com um faixa preta de Karatê contra um faixa de preta de jiu jitsu? O que vai acontecer… “. Então ele citou o Ultimate com essa ideia de educar o mundo inteiro que tipo de arte marcial é realmente efetiva – explica.

A família Gracie é brasileira e com uma árvore genealógica enorme. Rener faz parte daqueles que nasceram nos Estados Unidos. O professor de jiu-jitsu foi ao Brasil ainda pequeno por apenas quatro ou cinco vezes para ficar duas semanas no sítio do avô. O bom português veio da rigidez do pai, Roryon.

- Eu só aprendi português em casa com meu pai, me esculhambando desde começo – se diverte.

Apesar de ter seguido a carreira do pai, Rener faz questão de explicar que nem todo Gracie segue o caminho do esporte. Dos 105 netos da árvore genealógica, 50 trabalham com o jiu-jitsu profissionalmente.

- Você começa aprendendo como criança. Quando você chega aos 17 anos, já é faixa preta, casca grossa, já pode dar aula assim. Então é por isso que tantos Gracies continuam com o jiu-jitsu, porque é um negócio que você pode começar aos 20 anos. Com 18 anos, eu estava dando aula pro serviço secreto americano. Como é que eu vou começar a estudar pra ser advogado? Eu investi muito nisso, nasci dento do esporte, não tive muita escolha, mas sou muito feliz com isso – encerra Rener.

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