Eleição na Escola Estadual Plínio Negrão, zona sul de SP, acontece nesta quarta
Na primeira reunião do grupo, Katarine Ribeiro, de 16 anos, deu uma olhada geral e percebeu que ali estavam gays, lésbicas, héteros, uma menina trans, brancos, negros, paulistanos, nordestinos, meninos e meninas.
— Gente, que tal chamar “Chapa da Diversidade”?
Colou. E assim a estudante do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Plínio Negrão, na zona sul de São Paulo, pode se tornar nesta quarta-feira (17) a presidente do grêmio estudantil do colégio. As eleições ocorrem ao longo do dia e o resultado deve sair na quinta-feira (18).
— A nossa escola tem sérios problemas em relação a muitas coisas, principalmente de preconceito e bullying. Então a gente tentou juntar uma galera pra quebrar isso, porque o nosso foco principal, antes mesmo do nome “diversidade”, foi trabalhar a conscientização das pessoas. Diversidade foi só uma consequência do que a gente já queria fazer.
Formado por 19 adolescentes, o grupo teve um mês para percorrer salas de aulas, colar cartazes e conversar com os alunos para transmitir a ideia de desmonte do “preconceito em geral”. Eles conseguiram inclusive o apoio do rapper Mano Brown, do Racionais MC’s, que topou gravar um vídeo.
Segundo a candidata a presidente, a “Chapa da Diversidade” quer enfrentar “o preconceito em relação à orientação sexual e identidade de gênero, o preconceito racial e cultural, a gordofobia", além da depressão que atinge parte dos alunos.
— A maioria dos adolescentes tem problema de depressão, problemas com os pais, e isso afeta o desempenho na sala de aula. Às vezes aquele aluno que não presta tanta atenção, é agressivo ou mais quieto, ele tem algum problema em casa ou com ele mesmo. Pra gente conseguir ajudar ele, a gente achou interessante ter apoio dos psicólogos.
Durante a campanha, os alunos da chapa entraram em contato com cinco estudantes de psicologia e uma assistente social que toparam participar das atividades escolares e auxiliar os alunos.
— Tem muito bullying na escola, eu mesmo já sofri homofobia. Estava pregando cartazes da minha chapa e um menino olhou e falou. “Nossa, realmente um veado colou isso aqui”. E ele me viu colando o cartaz. Aí olhei pra cara dele e disse “Não sou um veado”. E ele falou: “É, só podia ser você mesmo”.
Nascida em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, Katarine também já foi alvo de bullying e preconceito em razão de sua origem.
— Várias vezes sofri preconceito por ser nordestina. Algumas pessoas fazem “brincadeiras” com meu sotaque. Dizem: “você vem de um lugar que não tem água”, “Como é que era viver na seca”. [É] Repugnante. Eu sempre tentei levar numa boa, porque o Rio Grande do Norte é um lugar muito lindo, e as pessoas de lá são pessoas incríveis. Então não vou me ofender com o comentário de uma pessoa que não tem esse conhecimento, que é ignorante em relação a isso.
Desde setembro de 2016 em São Paulo, Katarine ainda morava no Rio Grande do Norte quando ouviu as notícias sobre as ocupações dos secundaristas, que varreu o Estado no início do ano passado. Ela diz ter ficado "admirada".
— Fiquei com muita vontade de participar da ocupação, porque achei que os jovens estavam conseguindo ter um pouco de voz . Foi realmente incrível, realmente existem jovens no Brasil que têm voz, que querem alguma coisa, que querem uma mudança. Não é o que o pessoal fala que jovem é tudo imaturo e tal.
A presidente da Chapa da Diversidade afirma “ter muita esperança” em uma vitória hoje. Diz que vai trabalhar não só pelo colégio, mas também pela vizinhança.
— A gente realmente quer fazer mudança na escola, de todas as formas possíveis. Se a gente não ganhar, a gente vai ficar feliz por ter tentado, e vamos apoiar a chapa vencedora porque a gente quer o melhor pro Plinio Negrão e pros alunos que estudam lá.
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