quinta-feira, 18 de maio de 2017

Alunos de escola estadual criam “Chapa da Diversidade” para concorrer em grêmio estudantil

R7

Eleição na Escola Estadual Plínio Negrão, zona sul de SP, acontece nesta quarta

Diego Junqueira, do R7

Alunos da Escola Estadual Plínio Negrão que fazem parte da Chapa da DiversidadeArquivo Pessoal
Na primeira reunião do grupo, Katarine Ribeiro, de 16 anos, deu uma olhada geral e percebeu que ali estavam gays, lésbicas, héteros, uma menina trans, brancos, negros, paulistanos, nordestinos, meninos e meninas.
— Gente, que tal chamar “Chapa da Diversidade”?
Colou. E assim a estudante do 1º ano do ensino médio da Escola Estadual Plínio Negrão, na zona sul de São Paulo, pode se tornar nesta quarta-feira (17) a presidente do grêmio estudantil do colégio. As eleições ocorrem ao longo do dia e o resultado deve sair na quinta-feira (18).
— A nossa escola tem sérios problemas em relação a muitas coisas, principalmente de preconceito e bullying. Então a gente tentou juntar uma galera pra quebrar isso, porque o nosso foco principal, antes mesmo do nome “diversidade”, foi trabalhar a conscientização das pessoas. Diversidade foi só uma consequência do que a gente já queria fazer.
Formado por 19 adolescentes, o grupo teve um mês para percorrer salas de aulas, colar cartazes e conversar com os alunos para transmitir a ideia de desmonte do “preconceito em geral”. Eles conseguiram inclusive o apoio do rapper Mano Brown, do Racionais MC’s, que topou gravar um vídeo.
Segundo a candidata a presidente, a “Chapa da Diversidade” quer enfrentar “o preconceito em relação à orientação sexual e identidade de gênero, o preconceito racial e cultural, a gordofobia", além da depressão que atinge parte dos alunos.
— A maioria dos adolescentes tem problema de depressão, problemas com os pais, e isso afeta o desempenho na sala de aula. Às vezes aquele aluno que não presta tanta atenção, é agressivo ou mais quieto, ele tem algum problema em casa ou com ele mesmo. Pra gente conseguir ajudar ele, a gente achou interessante ter apoio dos psicólogos.
Material de campanha da Chapa da DiversidadeArquivo Pessoal
Durante a campanha, os alunos da chapa entraram em contato com cinco estudantes de psicologia e uma assistente social que toparam participar das atividades escolares e auxiliar os alunos.
— Tem muito bullying na escola, eu mesmo já sofri homofobia. Estava pregando cartazes da minha chapa e um menino olhou e falou. “Nossa, realmente um veado colou isso aqui”. E ele me viu colando o cartaz. Aí olhei pra cara dele e disse “Não sou um veado”. E ele falou: “É, só podia ser você mesmo”.
Nascida em Ceará-Mirim, no Rio Grande do Norte, Katarine também já foi alvo de bullying e preconceito em razão de sua origem.
— Várias vezes sofri preconceito por ser nordestina. Algumas pessoas fazem “brincadeiras” com meu sotaque. Dizem: “você vem de um lugar que não tem água”, “Como é que era viver na seca”. [É] Repugnante. Eu sempre tentei levar numa boa, porque o Rio Grande do Norte é um lugar muito lindo, e as pessoas de lá são pessoas incríveis. Então não vou me ofender com o comentário de uma pessoa que não tem esse conhecimento, que é ignorante em relação a isso.
Desde setembro de 2016 em São Paulo, Katarine ainda morava no Rio Grande do Norte quando ouviu as notícias sobre as ocupações dos secundaristas, que varreu o Estado no início do ano passado. Ela diz ter ficado "admirada".
— Fiquei com muita vontade de participar da ocupação, porque achei que os jovens estavam conseguindo ter um pouco de voz . Foi realmente incrível, realmente existem jovens no Brasil que têm voz, que querem alguma coisa, que querem uma mudança. Não é o que o pessoal fala que jovem é tudo imaturo e tal.
A presidente da Chapa da Diversidade afirma “ter muita esperança” em uma vitória hoje. Diz que vai trabalhar não só pelo colégio, mas também pela vizinhança.
— A gente realmente quer fazer mudança na escola, de todas as formas possíveis. Se a gente não ganhar, a gente vai ficar feliz por ter tentado, e vamos apoiar a chapa vencedora porque a gente quer o melhor pro Plinio Negrão e pros alunos que estudam lá.

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